domingo, 23 de março de 2014

A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM SURDEZ



 
A educação da pessoa com surdez é permeada historicamente por tendências antagônicas, que objetivavam a promoção do ensino e da aprendizagem. As concepções transitaram entre o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo. No entanto, as práticas educativas baseadas nas duas primeiras concepções não foram bem sucedidas, pois não consideram a língua natural da pessoa com surdez e comprometem seu desenvolvimento nos aspectos cognitivos, sócio afetivos, linguísticos e político culturais.

Atualmente as discussões giram em torno da inclusão da pessoa com surdez na escola comum, considerando que ela não é deficiente, possui sim uma limitação biológica, mas é dotada de potencial e capacidades, sendo um ser de consciência, pensamento e linguagem, dessa forma, se inserida em um processo educacional que atenda suas necessidades e compreenda suas especificidades, é competente para construir conhecimento.

Portanto, o problema da educação das pessoas com surdez não pode ter como centro a questão da língua, mas deve considerar também a qualidade das práticas educativas adotadas pelas escolas, que necessitam passar por um processo qualitativo de transformação para que sejam capazes de atender com qualidade a todos os alunos.

 
A aquisição da língua de sinais, de fato, não é garantia de uma aprendizagem significativa. O ambiente em que a pessoa com surdez está inserida, em especial, o da escola comum, uma vez que não lhe oferece condições para que se estabeleçam mediações simbólicas com o meio físico e social, não exercita ou provoca a capacidade representativa dessas pessoas, conseqüentemente, compromete o desenvolvimento do pensamento, da linguagem e da produção de sentidos. (DAMÁZIO, 2010,p. 50)


A abordagem bilíngue defende uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez em que a Libras e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam-se línguas de instrução e o acesso a elas ocorra de forma simultânea no ambiente, a fim de que seja fomentado um sistema amplo de comunicação que favoreça as relações e aprendizagens dos alunos com surdez, instrumentalizando-os a aprender a aprender.

Neste sentido o Atendimento Educacional Especializado contribui para a interação entre o aluno com surdez, seu professor e seus colegas, uma vez que possibilita sua efetiva participação em sala de aula comum e “deve ser construção e reconstrução de experiências e vivências conceituais, em que a organização do conteúdo visto como curricular não deve estar pautada numa visão linear, hierarquizada e fragmentada do conhecimento” (DAMÁZIO, 2010, p. 52)

O Plano de AEE da pessoa com surdez envolve três momentos didático-pedagógicos, quais sejam AEE em Libras, AEE para o ensino de Língua Portuguesa e o AEE de Libras.

O objetivo do AEE em Libras é trabalhar com aluno a base conceitual da Língua de Sinais e o conteúdo desenvolvido em sala de aula comum, a fim de que ao aluno com surdez sejam antecipados os conceitos curriculares da série em que ele está inserido. O professor de AEE em Libras utiliza diversos recursos de imagens visuais e outras estratégias, caso necessário, para que haja a compreensão do que está sendo estudado.

O AEE para o ensino de Língua Portuguesa refere-se à aprendizagem da leitura, escrita e da gramática em uso, e tais processos devem acontecer num contexto significativo e funcional de construção do conhecimento. O objetivo do AEE é desenvolver a competência linguística e textual do aluno com surdez, para ele seja capaz de gerar sequências linguísticas coerentes, a partir do conhecimento morfológico, sintático e semântico-pragmático da Língua Portuguesa.

O AEE de Libras tem como objetivo aprimorar o conhecimento do aluno sobre a Língua de Sinais, enfatizando o estudo dos termos científicos abordados no conteúdo curricular e, sendo necessário, o professor pode criar novos sinais para representar termos científicos.

Os três momentos didático-pedagógicos corroboram para que a pessoa com surdez tenha condições de construir conhecimento, dentro de uma perspectiva inclusiva que “rompe fronteiras, territórios, quebra preconceitos e procura dar ao ser humano com surdez, amplas possibilidades sociais e educacionais”. (DAMÁZIO, 2010,p.50)

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 
Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional Especializado em Construção, p. 46-57.