A educação da pessoa
com surdez é permeada historicamente por tendências antagônicas, que
objetivavam a promoção do ensino e da aprendizagem. As concepções transitaram
entre o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo. No entanto, as práticas
educativas baseadas nas duas primeiras concepções não foram bem sucedidas, pois
não consideram a língua natural da pessoa com surdez e comprometem seu
desenvolvimento nos aspectos cognitivos, sócio afetivos, linguísticos e político
culturais.
Atualmente as
discussões giram em torno da inclusão da pessoa com surdez na escola comum,
considerando que ela não é deficiente, possui sim uma limitação biológica, mas
é dotada de potencial e capacidades, sendo um ser de consciência, pensamento e
linguagem, dessa forma, se inserida em um processo educacional que atenda suas
necessidades e compreenda suas especificidades, é competente para construir
conhecimento.
Portanto, o problema da
educação das pessoas com surdez não pode ter como centro a questão da língua,
mas deve considerar também a qualidade das práticas educativas adotadas pelas
escolas, que necessitam passar por um processo qualitativo de transformação
para que sejam capazes de atender com qualidade a todos os alunos.
A aquisição da
língua de sinais, de fato, não é garantia de uma aprendizagem significativa. O
ambiente em que a pessoa com surdez está inserida, em especial, o da escola
comum, uma vez que não lhe oferece condições para que se estabeleçam mediações
simbólicas com o meio físico e social, não exercita ou provoca a capacidade
representativa dessas pessoas, conseqüentemente, compromete o desenvolvimento
do pensamento, da linguagem e da produção de sentidos. (DAMÁZIO, 2010,p. 50)
A abordagem bilíngue
defende uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez em que a
Libras e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita,
constituam-se línguas de instrução e o acesso a elas ocorra de forma simultânea
no ambiente, a fim de que seja fomentado um sistema amplo de comunicação que
favoreça as relações e aprendizagens dos alunos com surdez,
instrumentalizando-os a aprender a aprender.
Neste
sentido o Atendimento Educacional Especializado contribui para a interação
entre o aluno com surdez, seu professor e seus colegas, uma vez que possibilita
sua efetiva participação em sala de aula comum e “deve ser construção e
reconstrução de experiências e vivências conceituais, em que a organização do
conteúdo visto como curricular não deve estar pautada numa visão linear,
hierarquizada e fragmentada do conhecimento” (DAMÁZIO, 2010, p. 52)
O
Plano de AEE da pessoa com surdez envolve três momentos didático-pedagógicos,
quais sejam AEE em Libras, AEE para o ensino de Língua Portuguesa e o AEE de
Libras.
O
objetivo do AEE em Libras é trabalhar com aluno a base conceitual da Língua de
Sinais e o conteúdo desenvolvido em sala de aula comum, a fim de que ao aluno
com surdez sejam antecipados os conceitos curriculares da série em que ele está
inserido. O professor de AEE em Libras utiliza diversos recursos de imagens
visuais e outras estratégias, caso necessário, para que haja a compreensão do
que está sendo estudado.
O AEE para o ensino de
Língua Portuguesa refere-se à aprendizagem da leitura, escrita e da gramática
em uso, e tais processos devem acontecer num contexto significativo e funcional
de construção do conhecimento. O objetivo do AEE é desenvolver a competência
linguística e textual do aluno com surdez, para ele seja capaz de gerar
sequências linguísticas coerentes, a partir do conhecimento morfológico,
sintático e semântico-pragmático da Língua Portuguesa.
O AEE de Libras tem
como objetivo aprimorar o conhecimento do aluno sobre a Língua de Sinais,
enfatizando o estudo dos termos científicos abordados no conteúdo curricular e,
sendo necessário, o professor pode criar novos sinais para representar termos
científicos.
Os três momentos didático-pedagógicos
corroboram para que a pessoa com surdez tenha condições de construir
conhecimento, dentro de uma perspectiva inclusiva que “rompe fronteiras,
territórios, quebra preconceitos e procura dar ao ser humano com surdez, amplas
possibilidades sociais e educacionais”. (DAMÁZIO, 2010,p.50)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação
Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento
Educacional Especializado em Construção, p. 46-57.